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O Tratamento da Espasticidade com Toxina Botulínica

14 - 04 - 2016

Jorge Jacinto

Jorge Jacinto, Diretor Serviço de Adultos

Com 50 anos de experiência e desenvolvimento científico, profissional e tecnológico, o CMRA conquistou nos últimos 10 anos reconhecimento mundial na área do tratamento da espasticidade com toxina botulínica e o estatuto de líder nos campos da formação avançada de médicos especialistas e da investigação clínica aplicada multicêntrica.

O que é a espasticidade?

A espasticidade é uma perturbação da ativação muscular que ocorre quando existem lesões do sistema nervoso central, como é o caso das lesões cerebrais que resultam de um AVC. A espasticidade é uma perturbação da ativação muscular que afeta cerca de 30% das pessoas após um AVC. Nos casos em que se manifesta, esta perturbação caracteriza-se pela hiperativação de alguns grupos musculares em resposta a estímulos inespecíficos como o frio, a febre, a ansiedade, um bocejo, um susto ou a dor. Em consequência, podem surgir dificuldades no controle dos movimentos voluntários e portanto na realização das atividades de vida diária e na deambulação autónoma. Em doentes mais incapacitados, dificulta o seu manuseamento e a prestação de assistência por parte dos cuidadores. Por outro lado, pode dar dor, perturbar o sono e, a médio prazo, levar ao estabelecer de deformidades definitivas.

Como otimizar o tratamento da espasticidade?

Para otimizar o tratamento da espasticidade, há que planear e implementar um programa abrangente, intensivo e multimodal, que associe educação, prevenção, agentes físicos, fisioterapia/terapia ocupacional, exercício e farmacoterapia.

Quando começar o tratamento da espasticidade? E quando usar a toxina botulínica tipo A? Mais cedo? Ou mais tarde após o AVC?

Dependendo da intensidade e localização, a espasticidade pode interferir de diversos modos na qualidade de vida e na capacidade de recuperação funcional das pessoas afectadas, bem como na sobrecarga imposta aos seus cuidadores. Por isso, deve ser tratada assim que se manifeste e constitua uma dificuldade acrescida para a reabilitação, a autonomia e o bem estar das pessoas afetadas ou dos seus cuidadores.  A toxina botulínica tipo A é o tratamento farmacológico de primeira linha, para doentes com lesões cerebrais, e deve ser integrado num plano global de reabilitação multimodal e educação/capacitação do doente e cuidadores.

Qual a utilidade da toxina botulínica tipo A na fase inicial versus fase tardia após um AVC?

A melhor evidência científica disponível e as guidelines de consenso internacionais mais recentes demostram claramente o benefício do tratamento, quer na fase aguda e post-guda (até aos 6 meses), quer na fase crónica (depois de 6 meses) após um AVC. O maior estudo multi-cêntrico internacional, com mais de 450 doentes, levado a cabo em centros de investigação clínica de todo o mundo (incluído o CMRA), demonstrou que a toxina é eficaz, segura e benéfica para os doentes espásticos nas diferentes fases. Nomeadamente os objetivos de funcionalidade ativa (auto-cuidados e outras atividades de vida diária, deambulação, marcha) são mais frequentes na fase post-aguda. Na fase crónica, os objetivos de tratamento prendem-se mais frequentemente com o controlo de sintomas (dor, espasmos), facilitação dos cuidados (mobilização, higiene, vestuário, posicionamento, alimentação, colocação de ortóteses) e prevenção das deformidades.

Qual é a experiência do CMRA?

A Toxina botulínica começou a ser usada no CMRA em 2000 e a consulta do Centro é hoje a maior consulta nacional de tratamento de espasticidade com toxina botulínica em crianças e adultos, num total de mais de 700 sessões de tratamento/ano. O CMRA é presentemente um Centro de referência internacional neste campo, nas vertentes de investigação clínica, consultoria e formação de médicos fisiatras e neurologistas de todo o mundo.